quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

David Machado

David Machado é um reconhecido escritor português, autor de vários romances e livros de literatura infantil. Já recebeu alguns prémios e no ano passado viu o seu romance "Índice Médio de Felicidade" adaptado ao cinema. 





Consulta o site http://www.revistaestante.fnac.pt/david-machado-2  e sabe mais sobre a sua vida. 


ENTREVISTA AO ESCRITOR  
Revista Estante - FNAC.






O que é para si um bom livro?
Um livro que me faz pensar. Se chegar ao final do livro e não tiver perguntas, esse livro é um livro falhado. Se só me der respostas, não serve para nada. Não preciso de respostas. Quero um livro que me dê perguntas. Acho que um livro tem sempre de ter espaço para que o leitor o preencha com as suas próprias emoções, os seus pensamentos, a sua experiência. Um livro que não deixa esse espaço não serve mesmo para nada. 


Qual foi o último livro que leu e o que achou dele?
Foi um livro de uma escritora inglesa, Ali Smith, que acho que ainda não está publicado em Portugal. Chama-se How to Be Both. Achei extraordinário. Incrível, mesmo. É uma referência a várias coisas: como conseguimos ser velhos e novos, homem e mulher dentro da mesma pessoa, estar aqui hoje e termos dentro do corpo todas as memórias e experiência dos nossos antepassados. Como conseguimos viver neste tipo de equilíbrios. E é um livro que tem muito a ver com a arte. O que é? O que vem primeiro e depois? Se olharmos para um quadro, somos nós que lhe damos sentido ou foi o pintor? É muito, muito bom. 


Costuma planear todos os detalhes do que escreve ou deixa-se levar pelo momento?
Eu penso muito antes de começar a escrever. Quando começo finalmente a escrever o texto, sei muito bem para onde quero ir. Não quer dizer que depois vá por esse caminho. Normalmente até não vou. Isso é aquilo que é mais estimulante na escrita: chegamos a lugares do nosso pensamento aos quais não chegaríamos só a pensar. A associação de palavras e a frase escrita à nossa frente normalmente despertam outro tipo de ideias. Mas quando me sento, normalmente tenho uma série de lanternas que me vão iluminando o caminho. Não quer dizer que saiba necessariamente o final da história, mas sei mais ou menos para onde é que aquilo me leva. 


Que título daria a um livro sobre a sua vida?
Só me lembro de um título que uma vez me apareceu na cabeça para um possível romance mas que eu gostava que fosse o título do livro da minha vida: Vida Mais Longa. Pelo simples facto de que queria dizer que eu ia viver muito. E eu gosto de viver.


Como lhe surgiu a ideia de Índice Médio de Felicidade?
A ideia original era escrever sobre três amigos e tinha mais a ver com o suicídio, com alguém a quem as coisas não estão a correr bem e quer desistir. Depois, à medida que fui construindo as personagens, esta questão da felicidade meteu-se porque, na verdade, é um tema que me é muito próximo há muitos anos. Acabou por se tornar um livro sobre um homem em crise em tempos de crise, o que o leva a questionar tudo: a sua própria vida, a felicidade, os planos para o futuro, a sua esperança, os seus valores e se vale a pena continuar, o que tem a ver com a ideia inicial que eu tinha. Acabou por ser um ponto de encontro entre vários temas e ideias: a felicidade, o altruísmo, a crise económica… 


Qual é a pior parte de ser escritor?
Tem a ver com a questão do retorno monetário. O nosso país é muito pequeno e as pessoas não leem tanto cá, não compram tantos livros como em outros países pequenos. Por exemplo, na Holanda vendem-se muitos livros e eles até são menos que nós. É difícil viver dos direitos de autor. Por muito que eu goste de ir falar às escolas e dar entrevistas, preferia fazer menos tudo isso e ter mais tempo para dedicar aos livros. Mas não tenho muitas queixas em relação ao meu trabalho. Adoro o que faço. Sei que sou um sortudo.


Que conselhos dá a eventuais aspirantes a escritor?
O que costumo dizer nas escolas aos miúdos é que, antes de mais, têm de ler. E têm de ler muito. Acho que há muita gente que quer e gosta de escrever, mas não lê muitos livros e não lê diferentes tipos de livros e não tenta ler livros que sejam mais exigentes do que o tipo a que estão habituados. E depois é preciso escrever muito. Há muita gente que escreve um conto ou dois e fica logo satisfeito, a pensar que poderia publicar qualquer coisa. Temos de escrever 20, 30, 40 contos. Temos de escrever três romances até acertarmos. Não fiquem satisfeitos à primeira. É importante falhar para percebermos como podemos fazer melhor.


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